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terça-feira, 9 de abril de 2013


C O N V I T E

Ishtar - Espaço para Gestantes (Recife) convida para o próximo encontro do grupo, no dia 13/04/2013.

O tema do nosso bate-papo será: “O pós-parto

Meu bebê nasceu e agora?
Angústia, solidão, vontade de chorar, é normal?
O que devo fazer, com quem contar para evitar esses sentimentos?
Contamos com a sua presença para enriquecer o nosso debate!

Lembrando: Participe do BANCO DE VIDROS DO ISHTAR (parceria com o Grupo “Grávidas e Mamães do Recife” - Facebook). Uma iniciativa voluntária, que visa auxiliar as mulheres na manutenção da amamentação através de doações e empréstimo de vidros adequados ao armazenamento e pasteurização de leite materno.
Data:        13 de abril de 2013
Horário:    10:00 às 12:30
Local:       Mezanino da Livraria Cultura Recife, Paço Alfândega, Bairro do Recife.

Mais informações:
(81) 92694187 tim - (81) 99427144 claro – (81) 88559284 oi


Ishtar News:
PREPARAÇÃO PARA A MATERNIDADE: AO ENCONTRO DA PRÓPRIA SOMBRA

As mulheres se dão ao luxo de ficar tentadas com uma ingenuidade absoluta durante a gravidez. Há uma tendência social de apresentar as grávidas embelezadas com o ventre a mostra, observando, reclusas, o mundo a partir do próprio umbigo, infantilizadas e cercadas de pensamentos supérfluos, folheando revistas românticas ou de conselhos úteis.
Sempre chamou minha atenção e estado de aparente embriaguez na qual as mulheres nadam durante a “doce espera”. Tentei, ao longo dos anos, dar informações sobre o pós-parto e a natureza da fusão emocional a mulheres que atravessavam o último período de gravidez, acreditando que perto do parto estariam dispostas a se conectar com os aspectos recônditos da alma. No entanto, a tendência cultural consegue congelá-las nessa “fantasia”, um espaço no qual se vive de camisola cercada de florezinhas de papel, achando que logo estarão brincando de boneca. Não estão dispostas a se preparar para encontrar a própria sombra, que indefectivelmente aproveitará o parto para entrar na festa sem ser convidada.
Preparam-se para o parto nesse estado infantil, acreditando em qualquer coisa que lhes digam, assustando-se e fazendo de conta que a gravidez durará uma eternidade.
Deleitam-se com o prazer de estarem redondas, transformam-se em meninas e, como elas, fazem ouvidos moucos as propostas de se fundir com sua alma sábia e ficarem em condições emocionais de se tornarem mães.
Dependendo da preparação para o parto que escolheram (quer dizer, que permita uma verdadeira procura da consciência interior e do conhecimento das capacidades intrínsecas de cada uma), terão uma experiência de parto mais ou menos harmônica, com mais ou menos acompanhamento e apoio, de acordo com o que procuram (se é que procuram algo em particular). Ora, sem busca não há escolha verdadeira. E, nesse, “não escolher”, preferem imaginar aquilo de que gostariam a se preparar para realizar e construir o que desejam.
Quando temem entrar no mundo adulto e dão a luz em um estado infantil, o bebê real tem pouco a ver com o bebê imaginado, sonhado e fantasiado a partir do conto de fadas que vêm contando a si mesmas desde pequenas. É um bebê que chora sem parar, suja as fraldas, não adere ao peito, é muito magro, muito comprido ou muito largo, não se conecta, é excessivamente inquieto, não permite que a mãe fique bem diante das visitas ou não a deixa em paz, ou ainda não se parece com ninguém. É menino quando se queria uma menina ou vice-versa, nasceu antes ou depois do previsto, foi cesariana quando o esperado era um parto normal, não engorda, ou não se acalma, ou não dorme, ou é nervoso. Seja como for, é diferente do que se esperava. É profundamente desconhecido. Um recém-nascido é isso:a manifestação organizada da sombra da própria mãe, ou seja, tudo o que ela rejeita, desconhece ou dói em seu profundíssimo ser essencial.
Acontece um choque brutal entre o estado de embelezamento da barriga – e a apologia da gravidez entre tules e rendas – e o ser real de carne e osso que não para de chorar.
A maioria das mães se queixa “porque ninguém lhes contou como era realmente a criação de um bebê” e elas tiveram de aprender literalmente se expondo. É verdade que a experiência é individual, mas, nestes tempos em que abundam as idéias de preparação para o parto, chama minha atenção o fato de que as mulheres continuem chegando muito desvalidas ao momento de assumir a maternidade, sempre no terreno do emocional.
Há preparações que tratam apenas do aspecto físico. Outras dão algumas informações genéricas sobre puericultura e lactação. Por outro lado, os profissionais que trabalham com seriedade orientando a preparação no sentido de um encontro sólido com a própria sombra em circunstâncias muito diversas devido ao surgimento do filho costumam se deparar com aqueles estados infantis em que as mulheres são protegidas, para “não saber, não se inteirar, não se complicar” mais do que é conveniente.
Os profissionais que trabalham a favor das aptidões das mulheres para a maternidade se veem diante de uma encruzilhada de oferecer o que cada uma aparentemente quer ou então insistir em aproveitar a oportunidade para conhecer de antemão os riscos do processo de desestruturação emocional que acontecerá depois do parto. Ou seja, para lidar de maneira adulta com o que as mulheres tem de aprender com elas mesmas a respeito do que ainda não se manifestou, pois a criança não nasceu.
Os longos nove meses permitem que nos preparemos para a ruptura do corpo físico e a quebra da alma. Essa crise será aproveitada na medida em que estejamos dispostas a olhar as partes escuras ou temidas de nosso eu sou. E essa tarefa pertence a mulher-adulta, a mulher-terra, a mulher-sangue, a mulher-pássaro. Não consegue realiza-la a menina que vive em nós, temerosa de conhecer o mundo interno, desamparada e sozinha.
Creio que este é o tipo de preparação para a maternidade que as mulheres ativas estão em condições de almejar: poder se amparar em outras mulheres sábias e experientes que estejam dispostas a guiar e a cuidar delas neste processo de casulo frágil que se transforma em flor. Uma flor bela e altiva que conhece as leis da natureza e, acima de tudo, as emoções femininas. A criança que está para nascer nos dá a possibilidade de ingressar no mundo adulto, mas a decisão de fazê-lo é pessoal. Neste sentido, ser cúmplice da ingenuidade em que a mulher grávida navega é uma decisão profissional.

Extraído de: A maternidade e o encontro com a própria sombra: o resgate do relacionamento entre mães e filhos. Laura Gutman. Editora Best Seller, 2010, páginas 87 a 89.

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