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quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Próximo encontro: 23 de fevereiro de 2013


C O N V I T E
  
Ishtar - Espaço para Gestantes (Recife) convida para o próximo encontro do grupo, no dia 23/02/2013.
O tema do nosso encontro será: “Intervenções com o recém-nascido”.
Quando nasce uma mãe nasce um bebê! Chegou o momento de cortar o cordão umbilical, a partir de agora vocês serão dois, e o que acontecerá com seu bebê? Você já procurou conhecer quais os procedimentos de rotina que são aplicados nos recém-nascidos? Pra que servem? São realmente importantes e indispensáveis?
 Contamos com a sua presença para enriquecer o nosso debate!
 Lembrando: Participe do BANCO DE VIDROS DO ISHTAR (parceria com o Grupo “Grávidas e Mamães do Recife” - Facebook). uma iniciativa voluntária, que visa auxiliar as mulheres na manutenção da amamentação através de doações e empréstimo de vidros adequados ao armazenamento e pasteurização de leite materno.

Data: 23 de fevereiro de 2013
Horário: 10:00 às 12:30
Local: Mezanino da Livraria Cultura Recife, localizada no Paço Alfândega, Bairro do Recife.

Mais informações:
 (81) 92694187 tim - (81) 99427144 claro – (81) 88559284 oi

ISHTAR NEWS:
Após nove meses, aproximadamente 280 dias, 40 semanas ou nove luas, o bebê finalmente está pronto para nascer. O feto, completamente formado desde as 12 semanas, levou todo este tempo para crescer e amadurecer dentro do útero. No final da gravidez, ele dá sinais que está maduro e inicia-se o trabalho de parto. Sua circulação é inundada de hormônios que sinalizam o nascimento iminente. As contrações uterinas massageiam o seu corpinho e dão a noção do ritmo. Finalmente, a passagem pelo estreito canal de parto comprime o tórax do bebê, auxiliando na saída do líquido amniótico presente em seus pulmões, boca e narinas.

O bebê nasce e, enquanto permanece ligado à placenta pelo cordão umbilical que pulsa, não há pressa em respirar. Nos braços da mãe, ele conhece o novo espaço, espirra, tosse e finalmente respira. Às vezes chora vigorosamente, às vezes apenas resmunga. Em alguns minutos, os pulmões se expandem, a circulação fetal deixa de existir e a placenta não é mais necessária. O cordão umbilical para de pulsar e pode ser cortado. Enquanto isso, mãe e filho se reconhecem, trocam cheiros, o som do coração da mãe acalma o bebê, que lentamente começa a procurar o seio. Depois de mamar, o bebê adormece e descansa por um longo período, se recuperando dessa grande jornada.

A sequência descrita acima foi planejada pela natureza ao longo de milhares de anos de evolução. Infelizmente, este processo fisiológico não é respeitado na maioria das maternidades brasileiras. Aproximadamente 40 % dos bebês da rede pública e 80% da rede privada nascem através de cesariana. Grande parte deste número –principalmente na rede privada- correspondem às cesarianas eletivas (aquela marcada por conveniência do médico ou da mulher). Nestes casos, o bebê não sabe que vai nascer. Não foi avisado pelo trabalho de parto, não recebeu os hormônios necessários, não sentiu o ritmo das contrações nem passou pelo canal de parto. Frequentemente estava dormindo no momento do nascimento. Tem que passar de feto a gente que respira em segundos. Seus pulmões, boca e nariz estão cheios de líquido amniótico. Só resta ao bebê aterrorizado a opção de chorar  para expandir os pulmões e concluir à força o processo de transição. A criança é levada a um berço aquecido, onde é vigorosamente enxugada. Geralmente o pediatra introduz uma sonda em sua boca e narinas para aspirar as secreções. A criança é pesada, medida, classificada e identificada. Rapidamente é apresentada à mãe, que não pode segurá-lo porque tem as mãos presas na mesa cirúrgica.

O bebê então é levado ao berçário, onde é colocado em um berço aquecido, observado pela família através de um vidro. Ali ele recebe um colírio de nitrato de prata, cujo objetivo é prevenir uma eventual conjuntivite  pela bactéria causadora da gonorréia. É provável que suas pálpebras fiquem inchadas e doloridas em conseqüência do colírio. Ele recebe ainda uma injeção intramuscular de vitamina K, medicação usada para prevenir um distúrbio de coagulação.

Através do vidro do berçário observamos o recém nascido, sozinho no berço aquecido. A agressão sensorial foi tamanha que muitos dormem, exauridos. Outros choram e se debatem, observados pela família orgulhosa. Algumas horas depois, o banho. O recém nascido é lavado com água morna, na banheira ou sob a torneira da pia. É preciso lavá-lo e remover qualquer vestígio de sangue ou vérnix. É necessário que  ninguém perceba que o bebê nasceu de um útero, lugar cheio de mistérios. A criança é vestida e finalmente será amamentada.
A mãe recebe o pequeno estranho, que ela não pariu, sequer viu nascer através dos panos estéreis da cirurgia. O pequeno estranho não tem seu cheiro, aliás cheira a algum produto químico. O pequeno estranho está sonolento, porque durante o período fisiológico de vigília estava no berçário. Depois de algum esforço, afinal consegue mamar. A natureza felizmente continua sábia e é através da amamentação que a mãe e o pequeno estranho vão enfim criar vínculos.
Ana Paula Caldas
Neonatologista
Integrante da rede Parto do Principio